CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PRÉ COP30 DÁ VOZ AO POVO DO AMAPÁ
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Primeiro painel do dia |
Nesta sexta-feira, 22 de novembro, foi o último dia da Conferência Internacional Desenvolve Amazônia. Diálogos para a COP 30, promovida pelo TRE-AP, e realizada em sua sede. A programação, muito bem organizada, foi intensa e de altíssimo nivel, com debatedores especializados em seus respectivos temas que, definitivamente, agregaram muito conhecimento aos participantes, agora mais preparados para esse diálogo tão importante para o futuro do Estado.
Dr Marcelo de Jesus Veiga, Coordenador do Desenvolvimento Tecnológico do IEPA, dentre muitos conhecimentos sobre ecossistemas, falou sobre a necessidade da iniciativa privada ser incluída no processo produtivo. "É preciso trazer a comunidade e suas vocações para dentro do processo produtivo", enfatizou.
O diplomata Dr. Augusto César Matos falou sobre a necessidade de aproximar a academia ao setor empresarial. Segundo ele, os desenvolvimentos que foram vivenciados no Amapá foram como ganhar na loteria, quando se ganha hoje e se perde tudo que ganhou amanhã, como o caso de Serra do Navio. Ele ressaltou que é preciso pensar em algo duradouro, que tenha aplicação prática e que traga benefícios permanentes para a população local.
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Crimes sexuais contra crianças na Amazônia também são reflexos de problemas sócio-econômicos |
No painel sobre crimes sexuais no contexto amazônico, a Deputada Federal Sílvia Waiapi deu seu próprio depoimento de uma gravidez aos 13 anos e que não se pode mais engolir a estória de que na Amazônia "elas começam cedo". O que acontece na Amazônia é abuso, é estupro de crianças e adolescentes que têm seu futuro roubado. Para ela, a tradição da fome, a questão da sobrevivência faz com que a criança seja entregue ao casamento. Há um intercâmbio sexual onde oferecem as crianças famintas da Amazônia. "Nós estamos o tempo todo defendendo a árvore e permitindo que crianças e mulheres sejam estupradas embaixo delas" desabafou indignada. Sílvia alerta que a COP 30 trará ONG's de outros países para discutir o nosso futuro sem a nossa presença. "Estamos sendo tratados como poesia ou como um alvo fácil de imposição de um desejo que é destituir a soberania de um país" finaliza.
A Senadora Damares Alves destacou que, pela Constituição Federal, a criança tem que ser a prioridade absoluta. Mas o mundo olha para o Amapá e vê até uma aranha rara, mas não enxerga as crianças. "Eu queria que o mundo olhasse para o Amapá e visse que o bem mais precioso é a criança. Nos mega eventos, fala-se de tudo na Amazônia, até de clima e mulher, menos clima e criança", lamentou.
Para Damares Alves, é preciso sair dessa conferência com encaminhamentos. Não tem Amazônia e não tem nação sem proteção da criança. É preciso primeiro dá dignidade às famílias e depois se fala em reservas. Damares alertou que quem tem coragem de denunciar a exploração sexual de crianças no Brasil é perseguido. "Todas as mulheres que falam contra a violência sexual infantil são tidas como loucas. Pedofilia não é cultura. Cultura que dói não é cultura" acrescentou. Ela ainda faz a advertência de que em grandes eventos, explode o número de exploração sexual.
"Na COP vão muitos falsos ambientalistas e nós vamos ter que nos preparar para dar o nosso recado: não toquem em nossaa crianças" reintera a senadora que é conhecida como terror do pedófilo e se considera honrada com esse apelido. Damares disse que segundo o MPF, há 101 mil pessoas desaparecidas no Brasil e a maioria são crianças. "Onde estão essas crianças? O que fizeram com elas? Há ainda crianças que nascem nas aldeias e entre os ribeirinhos que nem mesmo são registradas, o que pode tornar esse número de desaparecidos maior ainda. Esse assunto é sério demais. Eu recebo ameaça de morte todos os dias. Há poderosos envolvidos nisso. Um vídeo com cenas de estupro de bebês custa 50 mil reais. Somos os maiores produtores de imagens que alimentam pedófilos do mundo" alerta. Segundo ela, a exploração sexual de crianças e adolescentes é o terceiro maior ilícito, perdendo só para drogas e armas.
Neste painel, tivemos também a participação do Delegado Vitor Moraes, da Políticia Federal e do Delegado da Polícia Civil José Neto que corroboraram com o que as paralamentares falaram, pois existem dados que provam isso. "A questão social e econômica aumenta o índice de exploração sexual no norte e nordeste" disse o delegado da PF. José Neto esclareceu que 75% das vitimas de estupro são crianças, e 90% delas são meninas. O estupro acontece, predominantemente, com vítimas de classe social baixa e a maioria está dentro do ambiente doméstico. Muitas vezes, a mãe é conivente, pois depende financeiramente do abusador. O Dr Diego Araujo, moderador do painel, falou da urgente necessidade de julgar com celeridade os casos de estupro de vuneráveis.
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"Aqui, quem manda somos nós" Desembargadora Sulamir de Almeida |
Na participação da desembargadora Sulamir Monassa de Almeida, ela se comprometeu a ser guardiã das riquezas nossas para o homem da floresta. Segundo ela, sem o povo da floresta ser ouvido, não existe COP. Para a mediadora desse painel, prof. Simone, se a COP não oportunizar ouvir quem mora aqui, vai haver um silenciamente histórico e institucional.
O pro-reitor do IFAP Welder Carlos Andrade, falou que a curto prazo, não há no Estado nenhum curso de petróleo e energias renováveis e se assistirmos sem ações, assistiremos a uma chegada de profissionais de outros estados.
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Painel de encerramento do evento |
O comunicador e jornalista Haroldo Santos disse que o povo da Amazônia não vive feliz. Sobrevive. "Eu quero viver da riqueza da Amazônia respeitando a Amazônia" enfatiza. O Dr Diego Araújo, coordenador geral do evento, concluiu a conferência falando que é preciso levar a voz do Amapá à COP e mostrar que aqui não tem só árvore. Tem gente que precisa de todas as condições de subsistência. Indubitavelmente, a conferência cumpriu o seu propósito e já é o evento mais importante realizado na Amazônia antes da COP 30.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
Jornalismo como deve ser
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